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Lembre-se de que o mal não merece comentário em tempo algum

    Em tempos de exposição constante, onde cada opinião se transforma em debate e cada erro em espetáculo, a frase “Lembre-se de que o mal não merece comentário em tempo algum.” soa como um convite à sabedoria. É uma lembrança de que o mal se alimenta da atenção que lhe damos, por consequência, nosso silêncio pode ser mais poderoso do que mil argumentos.

    Quando reagimos à negatividade com mais negatividade, nos tornamos parte do mesmo ciclo que dizemos rejeitar. Mas quando escolhemos silenciar o mal e cultivar o bem, fazemos algo maior: preservamos a paz interior e nos tornamos instrumentos de luz.
    O mal não desaparece porque o ignoramos — ele perde força porque deixamos de sustentá-lo.

    Evitar comentar o mal não é fingir que ele não existe; é recusar ser seu mensageiro. É compreender que nem tudo precisa ser dito, e que há momentos em que o silêncio é a mais alta forma de resposta.
    A espiritualidade amadurecida não se expressa em discussões, mas em atitudes que irradiam serenidade.

    Nas próximas reflexões, veremos como esse ensinamento se manifesta em diferentes fases da vida — do homem maduro à jovem em busca de propósito. Cada voz representa uma jornada distinta, mas todas revelam a mesma verdade: quem domina a língua, governa o próprio espírito.

    Perspectiva do homem maduro

    Com o tempo, aprendi que nem toda verdade precisa ser dita, e nem toda injustiça precisa ser debatida. Já gastei muita energia tentando provar meu ponto, justificar minhas decisões ou reagir a provocações. Hoje, entendo que não alimentar o mal com palavras é uma forma de maturidade — e, acima de tudo, de paz.

    A vida já me mostrou que o mal se disfarça de razão. Ele nos provoca para que reajamos, para que entremos na mesma vibração. E quando caímos nessa armadilha, perdemos algo precioso: o equilíbrio. Aprendi que o silêncio é uma defesa espiritual. Ele não é covardia, é força. É dizer ao universo: “não vou permitir que isso me contamine.”

    Quantas vezes ouvi comentários maldosos sobre o passado, sobre a forma como eduquei meus filhos ou conduzi minha vida? Antes eu respondia, tentava me explicar. Hoje, apenas sorrio e deixo passar. O tempo é o maior juiz que existe, e ele mostra o que nenhuma palavra conseguiria provar.
    Silenciar o mal é escolher não ser seu eco.

    Também percebo que o silêncio educa. Quando deixamos de comentar o mal, mostramos ao outro que não vale a pena desperdiçar energia com o que destrói. É uma forma de ensinar sem confrontar. De curar sem se ferir.

    No fim das contas, aprendi que quem fala demais do mal acaba se afastando do bem. E quem cultiva serenidade, atrai a verdade. O silêncio se tornou meu escudo — e, em muitas situações, minha oração.

    Perspectiva da mulher sobrecarregada

    Meu dia começa antes do sol e termina quando o cansaço me vence. Entre reuniões, responsabilidades, filhos e tarefas, mal sobra espaço para mim. E ainda assim, encontro tempo para ouvir os desabafos de outros — às vezes bons, às vezes cheios de queixas.
    Foi nesses momentos que percebi o quanto a palavra tem poder de multiplicar o mal ou interrompê-lo.

    Quantas vezes cheguei em casa irritada e, sem perceber, passei adiante o que recebi de negativo? Uma palavra impaciente, um comentário azedo, um julgamento apressado… E, depois, vi o ambiente mudar. O peso que eu trouxe contaminava tudo.
    Hoje, tento ser mais consciente. Quando algo ruim acontece, procuro o silêncio. Respiro fundo e lembro: “O mal não merece comentário em tempo algum.”

    Escolher o silêncio não é repressão — é discernimento.
    Aprendi que posso transformar o mal sem reproduzi-lo. Às vezes, isso significa mudar o tom da conversa, outras vezes, simplesmente não responder. E há momentos em que o melhor que posso fazer por mim e pelos outros é não dar palco à sombra.

    Vivemos cercados de opiniões, críticas e comparações. É fácil se perder no barulho. Mas percebo que, quanto mais me recolho, mais escuto o que é essencial. O silêncio se torna uma oração ativa — um modo de cuidar de mim sem ferir ninguém.

    E quando alguém me pergunta por que fico calada diante de tanta injustiça, respondo: porque aprendi que a serenidade cala o mal mais rápido do que qualquer grito.
    O bem floresce onde o mal é ignorado. E eu quero florescer, não ferir.

    Perspectiva da mulher madura

    A maturidade me trouxe uma sabedoria silenciosa. Já vivi o bastante para saber que, muitas vezes, o mal se propaga pelas palavras que o descrevem.
    Quando eu era mais jovem, achava que precisava opinar sobre tudo. Hoje, percebo que nem todo mal merece voz — porque cada palavra pode ser um sopro que o alimenta.

    Vejo o mundo de hoje com espanto: as pessoas brigam por qualquer coisa, transformam diferenças em guerras, e chamam isso de “expressar opinião”. Mas aprendi que nem sempre expressar é evoluir. Há momentos em que a verdadeira coragem está em calar.

    Nas conversas de família, nas redes sociais, nos encontros de domingo, sempre há alguém pronto para criticar. Eu, que antes entrava nesses diálogos para tentar apaziguar, agora apenas escuto e oro em silêncio. Porque percebo que a paz não se impõe — ela se inspira.

    Quando escolho o silêncio, não é omissão — é proteção. Proteção da alma, do ambiente, da energia que quero cultivar ao meu redor. O mal não resiste à indiferença. Ele precisa de plateia para existir.
    E quando não a encontra, se dissolve, como fumaça levada pelo vento.

    Hoje, mais do que nunca, acredito que a virtude não precisa de barulho. A serenidade é minha resposta. E é no meu silêncio que Deus fala mais claramente.

    Perspectiva de jovem profissional em busca de realização

    Trabalho em um hospital, e aqui o mal se mostra de muitas formas: na dor, na impaciência, na injustiça. Já ouvi pacientes reclamando de tudo, colegas discutindo por pequenos erros, e chefes descarregando frustrações em quem menos merece.
    No começo, eu reagia. Achava que precisava me defender, me posicionar. Mas descobri que o mal se desfaz no silêncio.

    Comecei a perceber que quanto mais tentava argumentar, mais o conflito crescia. Era como jogar lenha em uma fogueira que só existia porque alguém soprava.
    Um dia, uma enfermeira mais velha me disse: “Não dê palco ao mal. Apenas faça o bem e siga.”
    Aquilo me marcou. Desde então, decidi que minha energia seria usada para curar, não para discutir.

    Em meio à dor dos outros, aprendi que o silêncio é também uma forma de empatia. Há sofrimentos que não pedem palavras, apenas presença. E há críticas que não merecem resposta, apenas distância.
    Evitar dar voz à negatividade é preservar o próprio espírito da contaminação.

    Fora do hospital, levo esse aprendizado comigo. Quando alguém fala mal de outro, quando as redes sociais viram arenas de julgamento, quando percebo a raiva crescendo ao redor, escolho me afastar. Não por indiferença, mas por consciência.
    Porque percebo que o mal não morre por enfrentamento — morre por esquecimento.

    E toda vez que escolho o silêncio, sinto que faço parte da cura do mundo. Não com remédios, mas com equilíbrio. Não com discursos, mas com luz.

    O Poder do Silêncio

    Silenciar o mal é um ato de fé. É confiar que a justiça divina age melhor do que qualquer resposta humana.
    A frase “Lembre-se de que o mal não merece comentário em tempo algum” é, em princípio, um convite à lucidez: o de compreender que o mal só sobrevive quando encontra quem o repete.

    Cada fase da vida nos ensina essa lição de forma diferente. O homem maduro aprende que a resposta nem sempre é necessária, assim como, a mulher sobrecarregada descobre que o silêncio é autocuidado. A mulher idosa entende que a serenidade fala mais alto, bem como o jovem percebe que o bem floresce quando a alma descansa da disputa.

    Não comentar o mal é escolher não ser instrumento da sombra.
    É praticar uma fé viva — aquela que confia mais no exemplo do que na palavra.

    O silêncio, quando nasce da paz interior, é uma prece que ecoa no invisível.
    E é por meio dele que o bem encontra espaço para se manifestar.
    Porque, no fim das contas, quem aprende a calar o mal já começou a vencê-lo.

    * O tema “Lembre-se de que o mal não merece comentário em tempo algum” é utilizado como estudo na Escola de Aprendizes do Evangelho (AEA), a fim de oferecer um guia para nossa reforma íntima.