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Para as conquistas de ordem espiritual é bom que não haja nem entusiasmos nem desânimos

    A caminhada espiritual não é feita de explosões de fé, mas de constância. Quem busca o equilíbrio interior cedo descobre que os grandes saltos emocionais — tanto o entusiasmo excessivo quanto o desânimo profundo — são armadilhas sutis da alma. A frase “Para as conquistas de ordem espiritual é bom que não haja nem entusiasmos nem desânimos” é um lembrete de sabedoria: o progresso espiritual exige serenidade, ritmo e confiança no tempo divino.

    A fé amadurecida não se mede por arrebatamentos momentâneos, mas pela perseverança silenciosa. Quando o coração se exalta, perde o centro; quando se desespera, perde a esperança. A verdadeira evolução da alma acontece no equilíbrio, onde a emoção cede lugar à paz.

    Ser espiritual não é estar sempre em êxtase, mas permanecer firme mesmo nos dias em que o céu parece fechado. É seguir, ainda que lentamente, com o coração alinhado à certeza de que Deus não se apressa, mas nunca falha.

    Nas reflexões a seguir, veremos como esse ensinamento se manifesta em diferentes fases da vida — nas alegrias e cansaços de quem trabalha, ama, envelhece e busca sentido. Cada voz mostra que a estabilidade interior é o solo fértil do progresso espiritual.

    Perspectiva do homem maduro

    Quando era mais jovem, achava que a fé era um fogo que precisava arder alto. Procurava sentir Deus com intensidade — nas orações, nas experiências, nos momentos de crise. Mas o tempo me ensinou que a espiritualidade verdadeira não vive de picos de entusiasmo, mas de constância.

    Hoje, aos 47 anos, percebo que o amadurecimento espiritual se parece mais com o mar do que com o fogo. O mar não se apressa, mas nunca deixa de se mover. Assim também é a alma quando encontra o ritmo da fé: ela não precisa provar nada, apenas fluir.

    Já vivi dias de grande exaltação — quando me sentia invencível — e outros de desânimo profundo, quando duvidei de tudo. Em ambos os extremos, me perdi. Foi só na serenidade que encontrei a presença de Deus.
    Aprendi que o entusiasmo sem equilíbrio nos cega, e o desânimo sem fé nos paralisa.

    A Bíblia diz em Tiago 1:8: “O homem de ânimo dobre é inconstante em todos os seus caminhos.”
    Essa passagem me ensinou que Deus trabalha no terreno da estabilidade. Quando os sentimentos oscilam demais, a fé enfraquece. Mas quando a alma se aquieta, a voz divina se torna mais nítida.

    Hoje, não busco sentir — busco permanecer.
    Nem exijo grandes sinais, nem me desespero na ausência deles.
    Entendi que crescer espiritualmente é manter o coração firme, mesmo que o mundo oscile.
    E, nesse equilíbrio, a paz se torna permanente, não passageira.

    Perspectiva da mulher sobrecarregada

    A vida me empurra de um compromisso a outro. Às vezes, tenho a sensação de que o dia começa e termina sem que eu tenha respirado de verdade. No meio de tanta correria, tento manter minha espiritualidade viva, mas confesso que nem sempre consigo. Há momentos de empolgação — quando prometo que vou mudar, vou orar mais, vou cuidar de mim — e outros em que desabo de cansaço.

    Demorei para entender que a fé amadurecida não se alimenta de euforia nem se perde no desânimo. Ela se sustenta na rotina, no simples, no constante.
    Aprendi que Deus não precisa de promessas grandiosas, Ele valoriza a fidelidade silenciosa — aquela que, mesmo cansada, não desiste.

    Quando deixei de buscar grandes experiências e comecei a encontrar Deus nos detalhes — em um café quente, em uma conversa com meu filho, em um pôr do sol visto do carro — percebi que Ele sempre esteve ali. A fé não precisa gritar para ser verdadeira; às vezes, basta respirar.

    Há dias em que sinto vontade de largar tudo, e outros em que me encho de planos espirituais e me frustro porque não consigo cumpri-los.
    Mas, quando me lembro dessa frase — “Para as conquistas de ordem espiritual é bom que não haja nem entusiasmos nem desânimos” —, encontro equilíbrio.
    Entendo que o progresso da alma é como o de uma semente: invisível no começo, mas constante e inevitável.

    Hoje, busco um tipo de fé mais tranquila.
    Faço o que posso, confio quando não posso, e descanso no amor de Deus.
    Descobri que é no meio do cotidiano — não fora dele — que o espírito floresce.

    Perspectiva da mulher madura

    Quando a gente envelhece, aprende que tudo passa — inclusive as emoções que pareciam definitivas. Já vivi entusiasmos religiosos intensos, daqueles que fazem a gente querer mudar o mundo, e já passei por longos períodos de aridez espiritual, em que até a oração parecia um esforço inútil.
    Com o tempo, entendi que a alma cresce mais no equilíbrio do que na emoção.

    Hoje, minha fé é tranquila. Não sinto a mesma euforia dos meus tempos de juventude, mas também não me deixo abater pelas incertezas.
    Descobri que a estabilidade interior é o solo fértil do progresso espiritual.
    Não preciso que o coração pulse de emoção para saber que Deus está comigo. Ele está no silêncio, no olhar calmo, na aceitação dos dias comuns.

    Lembro-me de uma passagem que sempre me toca: “Na vossa paciência possuí as vossas almas.” (Lucas 21:19).
    Essa frase me acompanha há anos. Ela me ensina que a paciência não é passividade — é fé em movimento. É permanecer firme enquanto Deus trabalha em silêncio.

    O entusiasmo nos faz começar rápido, mas o equilíbrio nos faz permanecer.
    E é isso que busco: permanecer na paz, mesmo quando a vida muda, mesmo quando os netos se afastam, mesmo quando o corpo cansa.
    O fogo da juventude deu lugar à chama suave da serenidade — e é nela que encontro o verdadeiro contato com o divino.

    Perspectiva de jovem profissional em busca de realização

    Trabalho em um hospital e convivo diariamente com a fragilidade humana. Já vi pessoas fortes desmoronarem, e outras, aparentemente frágeis, enfrentarem a dor com fé inabalável. Isso me fez pensar muito sobre o que é a verdadeira força espiritual.
    Percebi que o crescimento espiritual exige constância e calma — porque, em meio ao sofrimento, o entusiasmo não sustenta, mas a serenidade sustenta tudo.

    No início da carreira, eu era movida pela euforia: queria salvar vidas, transformar o mundo, provar meu valor. Com o tempo, entendi que nem todos os dias trariam milagres.
    Hoje, aprendi que os milagres estão nos detalhes — no paciente que sorri, na dor que cessa, no abraço silencioso.

    Quando o desânimo chega, lembro-me de que a fé amadurecida não se abala com altos e baixos.
    A espiritualidade é como um batimento cardíaco: ela precisa do ritmo constante para manter a vida. E quando o coração acelera demais — ou para — o corpo sofre. Assim também é a alma.

    Nos corredores do hospital, muitas vezes rezo em silêncio. Não por grandes curas, mas por equilíbrio.
    Peço a Deus que me mantenha constante, sem euforia nem desespero, porque sei que o verdadeiro amadurecimento da fé está na perseverança tranquila.
    E, cada vez que termino um dia exausta, mas em paz, percebo que conquistei algo valioso — um passo, um suspiro, um milímetro a mais de serenidade.

    A Serenidade do Caminho

    A frase “Para as conquistas de ordem espiritual é bom que não haja nem entusiasmos nem desânimos” nos ensina que a fé não é uma chama que arde descontrolada, mas uma luz que nunca se apaga.
    Na vida espiritual, constância vale mais do que intensidade, e o equilíbrio é a forma mais pura de sabedoria.

    Cada fase da vida mostra isso de um modo:

    • O homem maduro aprende a ouvir o silêncio de Deus.
    • A mulher sobrecarregada descobre o divino no cotidiano.
    • A mulher idosa entende que a paciência é fé em movimento.
    • E o jovem profissional percebe que a serenidade é o maior milagre da rotina.

    As emoções passam, mas a paz permanece.
    E é nessa paz — sem euforia, sem desânimo — que a alma floresce e o espírito se fortalece.
    Porque quem aprende a andar em equilíbrio, caminha com Deus em cada passo.

    * O tema “Para as conquistas de ordem espiritual é bom que não haja nem entusiasmos nem desânimos” é utilizado como estudo na Escola de Aprendizes do Evangelho (AEA), a fim de oferecer um guia para nossa reforma íntima.