De forma bem objetiva vou responder a pergunta “O que é Espiritismo?”. O Espiritismo é uma doutrina religiosa que nasceu na França, na segunda metade do século XIX, em 18 de abril de 1857, quando foi publicado o livro “O Livro dos Espíritos”, por Allan Kardec. Com a publicação dessa obra foi fundada a Doutrina Espírita: uma nova abordagem que conecta de forma racional a fé, a ciência e a filosofia.
Importante destacar que a capacidade de comunicação com o mundo espiritual, é muito mais antiga que isso. Em absolutamente todas as religiões, de todas as idades e todos os cantos do mundo, relatam eventos de comunicação com o plano espiritual. Allan Kardec, uma referência intelectual e científica da época, sem crenças espíritas, dedicou seu tempo estudando cientificamente os fenômenos espíritas e conseguiu reunir um conjunto coerente de ideias fundamentais em sua primeira obra, que se tornou a Doutrina Espirita
Seus princípios fundamentais consideram a crença na reencarnação, na imortalidade da alma e na evolução contínua dos espíritos. Segundo a doutrina, a prática do amor e da caridade, é fundamental para o progresso moral e espiritual de cada indivíduo.
Características do Espiritismo
Entre suas características mais marcantes, destacam-se:
- Crença na evolução espiritual: Para os espíritas, a vida é uma jornada contínua de aprendizado e crescimento. Cada reencarnação é uma oportunidade de desenvolver virtudes e reparar erros do passado. A evolução moral é vista como o verdadeiro objetivo da existência.
- Mediunidade e comunicação com os espíritos: O Espiritismo ensina que todos somos, em maior ou menor grau, médiuns — ou seja, temos sensibilidade para perceber a presença dos espíritos. Através de médiuns mais preparados, é possível manter contato com espíritos desencarnados, sempre com propósitos elevados, como aprendizado e consolo.
- Valorização da caridade: A prática da caridade é considerada essencial para o progresso espiritual. Não se limita a ações materiais, mas abrange também o amor ao próximo, o perdão, a tolerância e o auxílio moral.
- Crença em Deus e em Jesus Cristo: O Espiritismo acredita em um Deus único, supremo, justo e bom — o mesmo Deus do cristianismo. No entanto, não adota dogmas ou rituais tradicionais. A fé é construída com base no raciocínio, e não na imposição.
- Ausência de sacerdotes e hierarquia religiosa: No Espiritismo, não existem figuras como padres, pastores ou gurus. Os centros espíritas funcionam de forma colaborativa e voluntária, com foco no estudo, na assistência espiritual e na prática da caridade.
- Diálogo com a ciência e a filosofia: Um dos diferenciais da doutrina espírita é a sua abertura ao pensamento científico e filosófico. Os fenômenos espirituais são estudados com seriedade, buscando compreender leis naturais que regem a vida além da matéria. Isso aproxima o Espiritismo de uma postura investigativa e racional, sem abrir mão da espiritualidade.
Objetivos do Espiritismo
O Espiritismo tem como missão central promover o aperfeiçoamento moral e espiritual da humanidade. Ele ensina que todos os seres humanos estão em constante processo de evolução, e que esse progresso se dá por meio de escolhas conscientes baseadas no amor, na caridade e no respeito ao próximo.
Inspirado nos ensinamentos de Jesus, o Espiritismo valoriza a reforma íntima — a transformação interior de cada indivíduo — como caminho para um mundo melhor. A prática do bem, o perdão, a humildade e o esforço diário em vencer as próprias imperfeições são vistos como essenciais para o crescimento do espírito.
Além disso, a doutrina busca oferecer uma compreensão mais profunda e racional da realidade espiritual. Por meio do estudo das leis que regem a vida e da comunicação com os espíritos, o Espiritismo procura responder às grandes perguntas da existência: de onde viemos, por que estamos aqui e para onde vamos após a morte.
Sua proposta é conciliar fé e razão, oferecendo consolo para os sofrimentos da vida e esclarecimento sobre o papel de cada um no grande plano da Criação. Ao entender que a vida continua após a morte e que tudo o que fazemos gera consequências, o ser humano é incentivado a viver com mais consciência, responsabilidade e esperança.
Símbolos do Espiritismo
Apesar de ter fundamentos espirituais profundos, o Espiritismo não adota símbolos oficiais como outras religiões tradicionalmente fazem.
No entanto, entre os estudiosos e praticantes, a videira se destaca como uma imagem simbólica que reflete muitos dos princípios da doutrina espírita. Essa associação surgiu a partir de uma ilustração presente em um dos livros fundamentais de Allan Kardec, e, com o tempo, passou a ser adotada como uma representação visual significativa.
Mas por que a videira? A videira é um símbolo profundamente espiritual, e suas partes podem ser interpretadas de forma simbólica dentro da visão espírita:

- O cultivo da uva exige cuidado, paciência e tempo — um paralelo com o processo de evolução espiritual, que também é gradual e contínuo.
- A videira como um todo representa o trabalho do Criador, que oferece a base para a vida e o crescimento dos espíritos.
- A uva, fruto da videira, simboliza o perispírito, que é o laço entre o corpo físico e o espírito, conforme ensinado pela doutrina.
- O licor da uva (o vinho) representa o que há de mais puro na alma: o resultado das experiências vividas, transformadas em sabedoria e elevação moral.
- O ramo da videira, por sua vez, pode ser entendido como o corpo físico, instrumento necessário para o aprendizado na Terra.
Ainda que o Espiritismo rejeite formalismos e rituais exteriores, ele valoriza profundamente os valores simbólicos e a reflexão espiritual. A videira, nesse contexto, não é adorada ou venerada, mas sim contemplada como uma metáfora viva do processo de amadurecimento espiritual que cada ser está destinado a trilhar.
Princípios do Espiritismo
O Espiritismo é guiado por diversos princípios que orientam tanto a visão de mundo quanto as práticas cotidianas de seus seguidores. Entre eles, destacam-se:
- Valorização do amor ao próximo: O amor universal é visto como a chave para a transformação do mundo e do ser humano.
- Importância da caridade: A prática do bem ao outro, sem esperar nada em troca, é considerada essencial para o progresso espiritual.
- Integração entre religião, filosofia e ciência: O Espiritismo busca explicações lógicas para os fenômenos espirituais, promovendo o diálogo entre fé e razão.
- Crença em Deus: Deus é visto como a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas, justo e bom.
- Crença em Jesus como guia moral: Embora não o considere “filho de Deus” no sentido teológico tradicional, o Espiritismo reconhece Jesus como o espírito mais evoluído que já esteve na Terra, modelo de perfeição moral.
- Imortalidade da alma: O espírito sobrevive à morte do corpo físico e continua sua jornada em outras esferas.
- Mediunidade como forma de comunicação com os espíritos: Todos têm, em maior ou menor grau, sensibilidade espiritual, mas alguns desenvolvem a capacidade de intermediar mensagens do mundo espiritual.
- Lei de causa e efeito: Toda ação gera uma consequência. Fazer o bem atrai o bem, assim como ações negativas geram desafios futuros — seja nesta vida ou em outras encarnações.
O Espiritismo não impõe dogmas, incentiva o livre pensar e convida seus seguidores à reforma íntima por meio do autoconhecimento e da prática do bem. Mais do que crença, trata-se de um caminho de aprendizado contínuo, que enxerga a dor como oportunidade de crescimento e a vida como uma escola sagrada.
Espiritismo no Mundo
Desde a publicação de O Livro dos Espíritos, o Espiritismo se espalhou pelo mundo, especialmente em países de língua latina, atraindo milhões de seguidores. Estima-se que existam hoje cerca de 13 milhões de espíritas no mundo, em 36 países, com o Brasil concentrando o maior número de adeptos.
No entanto, estudos mais detalhados sugerem que o número de espíritas ativos fora do Brasil pode ser significativamente menor.
Espiritismo no Brasil
O Brasil é o país com o maior número de espíritas do mundo, reunindo cerca de 3,8 milhões de adeptos declarados . E outros milhões de simpatizantes que, embora não se identifiquem formalmente como espíritas, acompanham os ensinamentos e práticas da doutrina.
O Espiritismo chegou ao Brasil por volta da década de 1860. A doutrina começou a ganhar força quando o educador francês Casimir Lieutaud traduziu e publicou a obra Os tempos são chegados, considerada o primeiro livro espírita editado em solo brasileiro.
Com o tempo, o movimento cresceu, se espalhou e se enraizou profundamente na cultura brasileira. Uma figura essencial nessa trajetória foi o médium Chico Xavier, considerado o maior expoente do espiritismo no país após Allan Kardec. Sua vida de simplicidade, serviço e amor ao próximo cativou milhões de brasileiros. Ao longo de sua missão mediúnica, psicografou mais de 450 livros e cerca de 10 mil cartas atribuídas a espíritos, sempre doando os direitos autorais das obras para instituições de caridade.
A psicografia, para os espíritas, é o fenômeno no qual um médium escreve mensagens ditadas por espíritos desencarnados. Essa prática está ligada à mediunidade, que, segundo a doutrina, é uma capacidade natural de todos os seres humanos, embora mais desenvolvida em alguns.
Origem e história do Espiritismo
O Espiritismo é uma doutrina espiritualista que surgiu na França, na segunda metade do século XIX, com os estudos do pedagogo Hippolyte Léon Denizard Rivail, mais conhecido pelo pseudônimo Allan Kardec. Embora tenha se consolidado como religião nesse período, seus seguidores apontam registros de manifestações mediúnicas desde a Antiguidade, inclusive na Bíblia e em textos de civilizações antigas, como o Egito, a Grécia e a Índia.
A trajetória do Espiritismo moderno começa em 1854, quando Kardec ouviu falar dos fenômenos conhecidos como “mesas girantes” — objetos que se moviam aparentemente sem intervenção humana, causando grande curiosidade na Europa. A princípio, ele acreditou tratar-se de magnetismo ou simples truques. No entanto, após presenciar pessoalmente esses fenômenos em 1855, incentivado por um amigo chamado Carlotti, Kardec passou a investigá-los de forma sistemática e racional.
Ao longo de várias sessões mediúnicas, Kardec começou a catalogar perguntas e respostas obtidas por meio de médiuns com os chamados “espíritos superiores”. Ele foi orientado por uma entidade espiritual que se apresentou como seu guia e o incentivou a organizar os princípios daquela nova doutrina. Durante esse processo, Kardec descobriu, através das comunicações mediúnicas, que teria sido um druida na antiga Gália e que, nessa vida passada, já usava o nome “Kardec”. Por isso, adotou esse nome como pseudônimo, buscando separar sua identidade científica da religiosa e evitar preconceitos acadêmicos.
Entre 1857 e 1868, Allan Kardec publicou as cinco obras fundamentais do Espiritismo, conhecidas como “as obras básicas”:
- O Livro dos Espíritos (1857): marco inaugural da doutrina, reúne 1.019 perguntas e respostas sobre a origem da vida, a natureza dos espíritos, a moral e o destino da humanidade.
- O Livro dos Médiuns (1859): aborda os diferentes tipos de mediunidade, explicando como ocorrem os fenômenos espirituais e como devem ser tratados com seriedade e ética.
- O Evangelho Segundo o Espiritismo (1863): interpreta os ensinamentos morais de Jesus à luz do Espiritismo, com foco na caridade, no perdão e na evolução espiritual.
- O Céu e o Inferno (1865): analisa o destino das almas após a morte, apresentando relatos espirituais sobre vidas após a desencarnação e confrontando visões tradicionais de salvação e condenação.
- A Gênese (1868): propõe uma releitura espiritual de temas científicos, como a criação do mundo, os milagres e as profecias, conectando ciência e fé.
Esses livros formam a base conceitual do Espiritismo, que se define como uma doutrina filosófica, científica e religiosa, cuja missão é promover o progresso moral e intelectual da humanidade. Seus pilares são a crença na reencarnação, na imortalidade da alma, na comunicação com os espíritos e na lei de causa e efeito. A prática da caridade é considerada essencial para o crescimento espiritual de cada indivíduo.
Ramificações do Espiritismo
Desde seu início, a doutrina espírita adotou uma linguagem próxima da ciência da época, refletindo o contexto do Iluminismo europeu e o avanço do pensamento racional. Kardec utilizou métodos de observação, comparação e análise para registrar comunicações mediúnicas, tratando os fenômenos espirituais como objetos de estudo. Esse esforço gerou uma abordagem singular, que atraiu intelectuais e curiosos do século XIX.
No entanto, essa tentativa de aproximação com a ciência sempre gerou debates. Críticos argumentam que o espiritismo não produz conhecimento empírico testável nos moldes do método científico tradicional, e por isso é muitas vezes classificado como pseudociência. Ainda assim, a doutrina mantém seu compromisso com a racionalidade e com a busca de explicações lógicas para os fenômenos espirituais.
Do ponto de vista religioso, o Espiritismo se apresenta como uma vertente cristã. Reconhece Jesus como guia moral da humanidade e se baseia em muitos ensinamentos contidos na Bíblia, especialmente os que dizem respeito ao amor ao próximo, à prática da caridade e ao perdão. No entanto, sua interpretação das Escrituras é livre de dogmas, incentivando a reflexão individual.
Outro aspecto importante da doutrina é sua crença na reencarnação, na imortalidade da alma e na constante evolução espiritual. Todos os seres estão em processo de aperfeiçoamento, passando por diversas vidas e experiências para se tornarem melhores moralmente e espiritualmente. A mediunidade, ou seja, a capacidade de se comunicar com o mundo espiritual, é considerada uma faculdade natural do ser humano, ainda que mais evidente em algumas pessoas.
O espiritismo também dialoga com outras tradições religiosas, especialmente no Brasil, onde influenciou e foi influenciado por outras crenças. Um exemplo marcante é sua relação com a Umbanda, religião afro-brasileira que incorporou conceitos como a reencarnação, a evolução do espírito e a prática mediúnica, adaptando-os dentro de sua própria cosmologia e tradição.
Hoje, o Espiritismo é amplamente difundido no Brasil — o país com o maior número de espíritas do mundo — e continua despertando o interesse de pessoas que buscam respostas sobre a vida após a morte, o propósito da existência e o papel do ser humano no universo.
Curiosidades sobre o Espiritismo
Aqui vão curiosidades:
Origem do nome “Espiritismo”
O termo “Espiritismo” foi criado por Allan Kardec para diferenciar essa doutrina das outras religiões espiritualistas. Antes disso, não existia um nome específico para essa visão organizada sobre a comunicação com os espíritos.
O Brasil é o país com mais espíritas do mundo
Segundo o IBGE, o Brasil abriga cerca de 4 milhões de espíritas declarados, mas estima-se que mais de 30 milhões de pessoas simpatizam com a doutrina, frequentando centros ou lendo suas obras.
Capitais com mais espíritas
Segundo o IBGE, Florianópolis, Porto Alegre e Rio de Janeiro lideram, proporcionalmente, o número de pessoas que se declaram espíritas no Brasil. Isso mostra como a doutrina tem raízes espalhadas por diversas regiões, com forte presença especialmente no Sul e Sudeste.
Cartas psicografadas usadas em tribunais
Em alguns casos raros, como em Goiânia e Campo Grande, cartas psicografadas foram aceitas como indícios em julgamentos, gerando comoção pública.
Allan Kardec: um autor lido e estudado
Allan Kardec, pseudônimo de Hippolyte Léon Denizard Rivail, é o autor francês mais lido no Brasil. Seus livros principais — como O Livro dos Espíritos, O Evangelho Segundo o Espiritismo e O Livro dos Médiuns — são estudados em grupos de leitura, centros espíritas e também por pessoas interessadas em temas espirituais e filosóficos.
Palmelo: a cidade espírita de Goiás
A pequena cidade de Palmelo, em Goiás, é conhecida como a “capital espírita do Brasil”. Fundada por médiuns e simpatizantes da doutrina, Palmelo cresceu ao redor de um centro espírita e se destaca até hoje pela prática mediúnica coletiva e pelo estilo de vida espiritualizado de seus habitantes.
Allan Kardec não era religioso no início
Kardec era um pedagogo francês, estudioso da ciência e da filosofia, e só se interessou pelo fenômeno espírita após observar experiências mediúnicas realizadas com seriedade.
O Espiritismo não tem dogmas nem clero
Não há sacerdotes, batismos, dízimos ou rituais obrigatórios. Os centros espíritas são espaços de estudo, acolhimento e prática da caridade, geralmente mantidos por voluntários.
Reencarnação como justiça divina
Para os espíritas, a reencarnação explica as desigualdades sociais, físicas e emocionais. Cada pessoa renasce com oportunidades para evoluir, reparar erros e desenvolver virtudes.
Mediunidade não é exclusividade dos médiuns famosos
O Espiritismo ensina que todos têm algum grau de mediunidade, mas em algumas pessoas ela se manifesta com mais intensidade. Por isso, há médiuns que psicografam, ouvem ou veem espíritos.
Chico Xavier psicografou mais de 400 livros
O médium brasileiro é uma das figuras mais conhecidas do Espiritismo. Ele nunca cobrou pelos livros, e todo o lucro foi destinado à caridade.
Os livros básicos da doutrina são cinco
Chamados de “Codificação Espírita”, os livros são: O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese.